Morreu ontem no hospital Vita e foi sepultado no início da tarde de hoje no cemitério vertical do Tarumã, em Curitiba, o jornalista Antônio Cipriano Bispo, que por quase 50 anos editou o suplemento de automóveis do jornal o Estado do Paraná. Bispo, de 80 anos, também era contador, advogado e coronel aposentado da Polícia Militar do Paraná.
Bispo integrou o grupo formando por Joemir Beting, Luiz Carlos Secco e J. J. Bitencourt como os primeiros jornalistas a escrever exclusivamente sobre automobilismo no Brasil. Secco, como editor de esportes do jornal O Estado de São Paulo, passou a dar destaque para um jovem que brilhava nas pistas. Este jovem era Émerson Fittipaldi, que em 1972 viria a se tornar o primeiro brasileiro a ser campeão mundial de Fórmula 1.
Bispo era amigo para todas as horas e tinha história que renderiam livros, filmes, minisséries. Uma delas, foi em 1987. Os principais jornalistas do Brasil estavam no Rio de Janeiro para cobrir o GP Brasil de Fórmula 1, em Jacarepaguá, quando Antônio Carlos da Silva, do então Jornal Indústria e Comércio, de Curitiba, teve o pedido de credenciamento negado. Calmamente, Bispo disse que resolveria. Pediu uma procuração para Antônio Carlos e foi ao fórum entrar com uma ação. Resultado, sua petição foi tão bem feita, que o juiz de Plantão lhe deu ganho de causa e determinou que ele mesmo levasse seu despacho aos representantes do já todo poderoso da Fórmula 1 Bernie Ecclestone. Clóvis Maia Mendonça e Marco Antônio Lellis, que trabalhavam para Ecclestone, até tentaram se esquivar, mas a decisão era clara. Ou credenciavam Antônio Carlos ou não teria Fórmula 1 no Rio. E assim foi feito. O primeiro treino da sexta-feira, uma Sexta-Feira da Paixão, só começou quando colocaram a credencial no peito de Antônio Carlos. A ordem para o comandante do policiamento era colocar um cancela na saída dos boxes e impedisse que pilotos como Nelson Piquet, Ayrton Senna, Maurício Gugelmin, Alain Prost e muitos outros mais talentosos do que os de hoje, fossem à pista. Bernie Ecclestone, baixinho arrogante, dava pulos. Neste tempo, a Fórmula 1 não era a chatice de hoje e Bernie e todos iam a todos os cantos do autódromo. Bernie descobriu que de acordo com a Constituição Brasileira, um jornalista não pode ser impedido de exercer a sua profissão. Este fato tornou-se referência mundial.